quinta-feira, 23 de junho de 2011

COPPELIA



Há 45 anos era inaugurada a mais famosa geladaria de Cuba, a “Coppelia”, situada em Havana na cêntrica avenida 23 esquina a L, frente ao conhecido Hotel “Habana Libre” e perto do emblemático Hotel “Nacional”, vindo ao longo da sua existência a deliciar as várias gerações de “habaneros” que por lá têm passado.

Um dos grandes prazeres da vida que qualquer cubano tem, em qualquer idade, é sem dúvida o poder deliciar-se com um gelado a qualquer hora, quer de dia quer de noite, antes ou depois das refeições, sendo o mesmo considerado um óptimo suplemento alimentar, além de ajudar a suportar o imenso calor que sempre se faz sentir. Diz-se mesmo que é quase impossível que exista algum “habanero” que não tenha uma história ou uma recordação agradável relacionada com esta monumental geladaria.

O conhecido e galardoado filme “Fresa y Chocolate” começa precisamente numa das esplanadas da “Coppelia”, onde os protagonistas se encontram e se conhecem frente a uma bela taça de gelado.

A denominação “Coppelia” foi retirada da obra de ballet clássico de igual nome, estreada em 1870 na Ópera de Paris, tornando-se um dos bailados mais representados e com maior sucesso desde essa altura. Desafiando o passar do tempo, o edifício de dois pisos é uma obra de arte arquitectónica em forma de aranha construída em betão armado, sendo considerado um dos mais belos edifícios da Ilha, conhecida também como a Catedral do Gelado.

No local onde hoje se encontra a “Coppelia” existiu entre 1886 e 1954 o Hospital Rainha Mercedes que foi demolido para dar lugar a um novo Hospital que nunca viria a ser construído, por haver outros projectos para um terreno situado no coração da cidade. É assim que todo o quarteirão é aproveitado para edificar um frondoso jardim com um lago artificial e algumas instalações ligadas à restauração, até que em 1965 se optou pela solução definitiva da “Coppelia”, tendo demorado a sua construção pouco mais de 6 meses.

Terminada a obra nem sequer houve tempo para a cerimónia inaugural, iniciando-se de imediato a venda à gente curiosa que desde logo começou a degustar a grande variedade de deliciosos gelados com uma oferta inicial de 26 sabores. Desde então “Coppelia” tem-se mantido como preferência do público, nacionais e estrangeiros, que mantém a sua capacidade quase lotada para atender cerca de mil pessoas em simultâneo, mas que mesmo assim e em determinadas horas, provoca infindáveis filas de pessoas que não desistem até conseguirem o tão almejado manjar.

Aqui vos deixo mais uma sugestão, esperando que a possam aproveitar numa próxima visita a Cuba.

(Por Celino Cunha Vieira, in Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 24/06/2011)

sábado, 18 de junho de 2011

CARNAVAIS

Quando me perguntam qual é a melhor época para visitar Cuba, fico sempre sem saber o que responder. Há uns anos não era muito recomendável o mês de Agosto porque as temperaturas muito elevadas a par da humidade do ar a rondar os 90% constituíam um suplício para quem estivesse pouco habituado a essas condições.

Hoje já não é bem assim e as mudanças climáticas que se têm operado em todo o planeta transformaram completamente as estações do ano, sendo indiferente a localização geográfica se situar no hemisfério norte ou no hemisfério sul.

Mas uma coisa é certa: com ou sem chuva, com mais ou menos calor, Cuba tem sempre ao longo do ano condições excepcionais para se poder ir à praia e usufruir daquelas águas claras e de temperatura amena.
As chuvadas, de características tropicais, acabam por refrescar o ambiente e não imaginam como é agradável estar dentro de água durante as fortes descargas, não apetecendo sair de lá, a não ser para tomar um trago de rum ou uma cervejita bem gelada.


A época que se aproxima é também aquela em que a animação de rua mais se evidencia, já que é no Verão – entre Junho e Agosto – que se realizam por todo o país os Carnavais, sendo o mais popular e de maior tradição o de Santiago de Cuba, seguido do de Camaguey e de Havana.


Há quem defenda que estas festas populares remontam aos primeiros tempos da época colonial, quando os escravos negros organizavam danças e marchas colectivas, autorizados pelos seus amos espanhóis que lhes concediam alguns dias em Janeiro, durante os Reis, para que pudessem reproduzir os cantos das suas terras africanas de origem.


Daí para cá as datas foram mudando e para que não se interrompessem as colheitas e se pudesse aproveitar a principal época de férias dos cubanos, os carnavais fixaram-se definitivamente no Verão.


Em Havana, por exemplo, a marginal (malecón) é fechada ao trânsito a partir das 6 da tarde durante o mês de Agosto, para que esta se transforme no imenso palco onde desfilam os grupos formados em cada município e que fazem a festa popular onde não faltam as vendas ambulantes de comidas e de bebidas.


Em cada recanto há música ao vivo ou gravada, onde se dançam os ritmos latinos tão do agrado dos jovens e dos menos jovens que se divertem até de madrugada. Hospitaleiro como é o povo cubano, qualquer estrangeiro facilmente se integra nos desfiles e nos bailaricos, compartilhando da alegria que transborda nestas noites de intensa folia.


O extenso muro do “malecón” serve de bancada privilegiada para quem só pensa em assistir aos festejos, mas também de local para descansar, namorar ou mesmo adormecer embalado pelas vagas que nele vão rebentando.


Por isso, se pensa ir a Cuba brevemente não deixe de participar nos carnavais, aproveitando ao máximo para se divertir.

(in Jornal Comércio do Seixal e Sesimbra de 17/06/2011)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ERNEST HEMINGWAY


A maior marina de Cuba, em Havana, tem o nome de Hemingway, em homenagem ao grande escritor, autor de “O adeus às armas”, “Por quem os sinos dobram” ou “As neves do Kilimanjaro”, entre outros, e Nobel da Literatura de 1954 depois de ter escrito e publicado dois anos antes o que viria a ser a sua última obra de ficção, “O Velho e o Mar”, inspirado num velho pescador cubano que ele conheceu enquanto aí vivia na sua fazenda “La Vigia”.

Ernest Hemingway, um dos mais prestigiados jornalista e escritor da sua época, nasceu no Estado do Ilinois (USA) em 21 de Julho de 1899 e teve uma vida extremamente atribulada, passando por vários países, entre os quais Inglaterra, França, Itália e Espanha, acabando por se fixar nos seus últimos anos de vida em Key West na Florida e Cuba, mudando-se para Ketchum no Idaho, onde viria a suicidar-se com apenas 61 anos de idade no dia 2 de Julho de 1961.





Conhecido o seu gosto especial pela pesca, em 26 de Maio de 1950 reúnem-se na Baía de Havana 36 dos melhores barcos, entre eles o “Pilar” de sua propriedade, para dar início ao que viria a ser o “1.º Torneio Internacional de Pesca da Agulha Ernest Hemingway” o qual decorre neste momento e até ao dia 11 de Junho na sua 61.ª edição, com a participação de 24 equipas em representação de 14 países, contando as respectivas classificações para a Copa Mundial a realizar no próximo ano no México, por cumprir com todos os parâmetros e princípios éticos de preservação das espécies, onde prevalece a componente ecológica e a necessidade de manter um planeta saudável, sob a supervisão da Associação Internacional de Pescadores Desportivos.




Quem visita Cuba tem ao seu dispor na Marina um excelente complexo turístico situado a oeste de Havana no final da 5ª Avenida, composto para além de todas as infra-estruturas relacionadas com a actividade náutica, também um hotel, vários restaurantes, esplanadas, discoteca ao ar livre e algumas lojas de produtos diversos.

Para os admiradores da obra de Hemingway também é imprescindível uma visita à “Finca La Vigia”, a poucos quilómetros do centro de Havana, adquirida por ele em 1940 por 12.500 dólares e onde escreveu alguns dos seus romances mais famosos. A casa, transformada em museu, preserva grande parte de todos os objectos pessoais do escritor, mantendo-se praticamente intacta desde o seu desaparecimento. Nos jardins, perfeitamente cuidados, está ainda exposto o seu barco “Pilar” que tantos momentos de prazer certamente lhe proporcionaram e onde aprendeu a melhor conhecer o mar com o seu velho amigo Santiago, protagonista do seu último livro.




Mais uma vez aqui vos deixo algumas sugestões, esperando que possam usufruir ao máximo da vossa próxima visita a Cuba.

(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 09/06/2011)


sábado, 4 de junho de 2011

JUANTORENA




Está mais que provada a utilidade de algumas redes sociais na internet e a força que podem ter nas mais variadas circunstâncias, possibilitando-nos contactar todo mundo e encontrar pessoas com quem não falamos há muito tempo.

Há dias, qual não foi o meu espanto quando o meu amigo Alberto Juantorena me chamou desde Cuba através do facebook, para trocarmos algumas impressões e sabermos um do outro.

Talvez os mais novos não saibam e os mais velhos já tenham esquecido o excelente atleta que ele foi, vencendo, entre muitas outras provas nacionais e internacionais, duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976, ao chegar em primeiro lugar nos 400 e 800 metros, contra todas as expectativas e previsões.

Quem assistiu no estádio ou através da televisão não pode deixar de recordar como “el caballo” galgou aquelas distâncias que tradicionalmente eram ganhas por competidores de outras nacionalidades, levando ao delírio todo um povo que se revê nas conquistas tão arduamente conseguidas em condições adversas e de extrema dificuldade.

Tive o privilégio de me encontrar com ele algumas vezes em Cuba, mas não posso deixar de recordar a sua visita ao Seixal, onde deixou muitos amigos que o admiram e recordam pela sua simplicidade, simpatia e tremendo bom humor.

Embora a sua visita tenha sido curta e de carácter particular, a mesma não passou despercebida a um jornalista desportivo que o reconheceu e lhe perguntou o que fazia em Portugal de forma quase clandestina. Sem se desmanchar, com tom sério e quase em segredo, Juantorena disse-lhe que tinha vindo casar-se com uma portuguesa. E não é que o tal jornalista publicou mesmo essa brincadeira como se fosse verdade?

Como Conselheiro do Comité Olímpico Internacional, Juantorena vem com alguma frequência à Europa, tendo-lhe feito o desafio para mais uma vez nos visitar, pois tenho a certeza que daria muita alegria e prazer aos amigos que possui neste nosso Concelho.

Hoje, Alberto Juantorena que é considerado uma lenda e um símbolo para a juventude, continua a prestar ao seu país relevantes serviços na área desportiva, desempenhando as funções de Vice-Ministro de Cuba para o Desporto.

(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 03/06/2011)