sexta-feira, 18 de março de 2011

CHERNOBIL

Os últimos acontecimentos catastróficos ocorridos no Japão, terramoto, tsunami e agora a contaminação radioactiva provocada pelas explosões na central nuclear, fizeram-me recordar o desastre de há 25 anos (26 de Abril de 1986) em Chernobil na Ucrânia e a importante assistência médica que Cuba já prestou a cerca de 26.000 crianças desse país que foram afectadas pelas radiações, apresentando inúmeras patologias.

Através de um programa estabelecido em 1990, os menores de 8 a 15 anos começaram a viajar gratuitamente para Cuba numa ponte aérea semanal, sendo instalados no complexo de Tarará a cerca de 25 Km a este de Havana e aí tratadas de cancro da tiróide e da pele, leucemia, alopecia, bócio, psoriase e também reabilitados de problemas motores e psíquicos.

O tempo de permanência tem variado de acordo com a gravidade das lesões e muitos deles acabam por ficar muitos meses até poderem regressar em definitivo ao seu país e às suas famílias. Estes são geralmente acompanhados pelas mães e com a vinda de professores ucranianos têm podido continuar os seus estudos enquanto se sujeitam aos tratamentos.

Em 1992 tive oportunidade de visitar estas instalações de Tarará, falar com alguns e verificar a felicidade estampada naqueles rostos (alguns desfigurados pelas queimaduras) mas demonstrando uma enorme vontade de viver, retribuindo com sorrisos o esforço e dedicação que todos os técnicos de saúde estavam a fazer para que pudessem ter um futuro e uma vida bem melhor e mais digna.

De 1990 até 1998, um dos períodos mais críticos da economia cubana, todos os gastos com este programa foram suportados por Cuba e só daí para cá é que a Ucrânia paga as despesas aéreas e os salários dos professores, porque toda a assistência e as despesas de instalação continuam a ser gratuitas.

Algumas crianças chegaram em cadeira de rodas e regressaram a andar, graças aos tratamentos recebidos, incluindo o transplante de medula e de rins.

Neste momento as autoridades cubanas já se disponibilizaram para ajudar o Japão em tudo o que estiver ao seu alcance, dando mais uma vez o exemplo daquilo que deve ser uma verdadeira e desinteressada solidariedade internacional.

(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 18/03/2011)

sábado, 12 de março de 2011

PROTESTOS EM CUBA


Há dias e em jeito de provocação, perguntaram-me se os protestos e manifestações que têm ocorrido nos países do norte de África não se poderiam também estender a Cuba.

Com o mesmo sentido provocatório e socorrendo-me do que escreveu o meu amigo Roberto Suárez, respondi que tudo era possível desde que fossem consideradas algumas questões, tais como:

- Por que os cubanos não se revoltam contra os serviços de saúde gratuitos?

- Por que não vêm para a rua exigir o pagamento das vacinas que são dadas a toda a população desde a sua nascença?

- Por que não protestam contra a educação gratuita em todos os níveis de ensino, preferindo o analfabetismo e a ignorância?

- Por que não exigem o encerramento das numerosas escolas de ensino especial para crianças deficientes?

- Por que os cubanos não desfilam contra o fomento da cultura e do desporto que só serve para perder tempo?

- Por que admitem que milhares de jovens da América Latina e de África estudem gratuitamente medicina em Cuba?

- Por que suportam que milhares de médicos e enfermeiros cubanos prestem assistência sanitária em muitas dezenas de outros países mais pobres?

- Por que não incluem novamente na sua Constituição o direito dos EUA ocuparem militarmente o território, restabelecendo o domínio absoluto como no tempo de Batista?

- Por que os cubanos não entregam as suas riquezas nacionais e a sua economia aos monopólios norte-americanos?

- Por que o povo cubano não exige a exploração do homem pelo homem e a descriminação em relação às mulheres e aos não-brancos?

- Por que insistem os cubanos em manter a justiça social e a igualdade entre os seres humanos e não aceitam as desigualdades entre ricos e pobres?

- Por que os cubanos não eliminam o respeito pela soberania dos países e a autodeterminação dos povos?

- Por que os cubanos não valorizam nem aceitam que os seus concidadãos se possam vender a uma potência estrangeira para provocar a derrota da Revolução?

- Em resumo, por que os cubanos, a sua esmagadora maioria, continua teimosamente a preferir a coerência e a dignidade?


(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 11/03/2011)