sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

QUE BLOQUEIO?

Na passada semana o governo dos EUA anunciou a aplicação de novas medidas em relação a Cuba, que consistem em autorizar as viagens de alguns cidadãos norte-americanos com fins académicos, educacionais, culturais e religiosos, permitindo também que possam ser enviadas em quantidades limitadas remessas de dinheiro ou bens a cidadãos cubanos, assim como rever a possibilidade da operação de voos charter desde os aeroportos internacionais dos EUA directos a Cuba, mas sob determinadas condições.

Havendo ainda que esperar pela publicação oficial destas intenções para se conhecer o seu verdadeiro significado, não deixa de ser para já um princípio que a administração Obama reconheça que o criminoso embargo económico e financeiro não faz qualquer sentido e que só com um diálogo de respeito pela soberania de cada país se pode avançar para uma relação de boa vizinhança que ambos os povos desejam.

Aliás, a adopção destas medidas resulta do esforço de amplos sectores da sociedade norte-americana que durante anos tem reclamado o levantamento do bloqueio contra Cuba e a eliminação da absurda proibição das viagens.

Mas esta decisão é também o reconhecimento do fracasso da política dos EUA que tudo tem feito para conseguir a dominação do povo cubano, querendo sujeitá-lo às suas regras “democráticas” e neo-colonialistas, tal como o tem tentado em muitos outros países.

O que agora foi anunciado pela Casa Branca é, no fundamental, o restabelecimento de algumas disposições que estiveram em vigor na década de noventa durante o mandato de Clinton e que foram eliminadas pelo paranóico George Bush após 2003, beneficiando apenas determinadas camadas de norte-americanos, não restituindo o direito a todos os cidadãos que continuarão a ser os únicos em todo o mundo que não podem livremente deslocar-se a Cuba.

De acordo com a denúncia exposta na declaração do Ministério de Relações Exteriores de Cuba, estas medidas confirmam que não existe grande vontade para mudar a política de bloqueio e desestabilização contra Cuba. Ao anunciá-las, os funcionários do governo dos EUA deixaram bem claro que o bloqueio se manterá intacto e que se propõem usar as novas medidas para fortalecer os instrumentos de subversão e ingerência nos assuntos internos de Cuba.

Se existisse um interesse real em ampliar e facilitar os contactos entre os dois povos, os EUA deveriam levantar o bloqueio, pois Cuba sempre facilitou o intercâmbio com o povo norte-americano, as suas universidades e as suas instituições académicas, científicas e religiosas. Todos os obstáculos que dificultam as visitas dos cidadãos norte-americanos a Cuba têm estado sempre do lado do governo dos EUA, que frio e indiferente, não se compadece que 12 horas de bloqueio equivalem a toda a insulina anual necessária aos 64.000 cubanos que dela necessitam, ou que 5 horas do mesmo bloqueio correspondem aos dializadores anuais necessários para os doentes crónicos renais existentes no país.


(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 21/01/2011)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

QUALIDADE DE VIDA

Mesmo com alguma relutância por parte da comunidade científica internacional em aceitar os êxitos que os investigadores cubanos têm vindo a ter nas mais variadas áreas, o certo é que acabam por reconhecer o esforço desenvolvido e as conquistas alcançadas que podem ajudar a prevenir, controlar ou curar algumas das doenças que afectam milhões de pessoas em todo o mundo.

Foi agora anunciado que uma equipa do Centro de Imunologia Molecular chefiada pela Doutora Gisela González, acaba de patentear a primeira vacina terapêutica contra o cancro do pulmão, já testada em mais de mil pacientes, tendo por objectivo converter esta terrível e fatal doença numa doença crónica controlável.

Esta vacina, que vem sendo desenvolvida desde há cerca de 15 anos, baseia-se numa proteína humana relacionada com a proliferação celular e destina-se a ser aplicada em doentes com cancro do pulmão, que após acabarem os tratamentos de radioterapia ou quimioterapia são considerados em estado terminal, podendo-se com a vacina controlar o crescimento dos tumores, sem qualquer toxicidade associada e usada como um tratamento crónico, o que aumenta a qualidade e expectativa de vida ao doente.

O princípio que conduziu a esta vacina continuará a ser desenvolvido em Cuba, de forma a que no futuro se possam produzir novas fórmulas para aplicação terapêutica em outros tumores, como o da próstata, do útero e da mama.

Mas isto só é possível porque Cuba não está sujeito às multinacionais dos medicamentos ou aos “lobbies” da saúde, bem instalados e relacionados politicamente, que tudo decidem em prol do lucro e não do bem-estar das populações.

E por falar em bem-estar das populações, não posso deixar de prestar a minha homenagem ao Presidente Luís Gomes, de Vila Real de Santo António, que agora está a ser incomodado pelo Tribunal de Contas por ter decidido enviar a Cuba alguns munícipes mais carenciados e que há anos esperavam por uma simples operação às cataratas ou que padeciam de outras patologias e a que o tão propagandeado Serviço Nacional de Saúde não dava resposta.

Com a sua destemida atitude conseguiu que as clínicas privadas baixassem os preços das intervenções cirúrgicas e que o governo português se tenha visto na obrigação de contratar quatro especialistas para o Hospital Distrital de Faro, onde só existia um, injectando nessa operação mais de 20 milhões de euros, tendo diminuído a lista de espera mas continuando ainda por normalizar, de acordo com as declarações da Presidente do Conselho de Administração deste Hospital.

Dá para pensar, afinal, onde está a razão e estabelecer as diferenças que existem na forma de encarar o supremo direito à saúde com a qualidade de vida que todos desejamos para nós e para os nossos semelhantes.


(In Semanário Comércio do Seixal e Sesimbra de 14/01/2011)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

TRANSFORMAÇÕES

Cuba entrou no seu 52.º ano após o triunfo da Revolução e as transformações que se estão a operar têm suscitado algumas dúvidas nos espíritos daqueles menos bem informados e que apenas fazem uma análise da situação baseada no que a comunicação social tendenciosamente transmite.
Nem se entende bem que os que antes criticavam por não existir iniciativa privada em Cuba, sejam agora os mesmos que criticam por ela ser permitida e incentivada. Felizmente que a Revolução Cubana é dinâmica e que o povo, em comunhão com os seus dirigentes, sabe corrigir os erros e encetar a cada momento as experiências que as circunstâncias aconselham, com o supremo objectivo da sua independência e de uma sociedade mais justa e igualitária, ao contrário do que acontece em Portugal.
No momento, uma das principais apostas é a de fomentar a criação de pequenas empresas que pela sua natureza específica não se justifica que continuem a ser tuteladas e pagas pelo Estado, absorvendo capitais que fazem falta noutros sectores, podendo assim, quem o desejar, desenvolver o seu próprio negócio, criando postos de trabalho e contribuindo para a economia do país.
Esta medida, que já há muito vinha sendo reclamada por uma vasta camada da população é das que maior impacto irá ter, já que estão reunidas todas as condições para o livre exercício de algumas profissões no sector dos serviços que antes lhes estava negado.
Também na agricultura e na pecuária, de forma isolada ou através de cooperativas, a produção pode ser substancialmente aumentada, tendo os seus promotores a possibilidade de escoar os produtos para os organismos estatais ou directamente para a população, contribuindo assim para a diminuição das importações de bens alimentares e consequente poupança de divisas.
Mas não se espere que estas transformações ocorram de um dia para o outro e que as dificuldades desapareçam num ápice, porque ainda há muito a fazer e a evoluir para que os resultados apareçam.
A discussão das definições estratégicas da política económica e social tem vindo a ser realizada com todo o povo, pois sem a sua cabal aceitação nenhuma medida poderá ter o êxito que se deseja, ao contrário daquilo que os detractores costumam insinuar, porque em Cuba a democracia é participativa e todos têm o direito de livremente exprimirem as suas opiniões e apresentar as suas propostas.
É um facto que o modelo económico que vigora há mais de 50 anos não poderia continuar a ser aplicado na sua plenitude, pelo simples motivo de que os mecanismos da globalização o impedem e os mercados financeiros não estão disponíveis para compensarem os défices governamentais tal como o fazem com outros países.
Mas Cuba vencerá mais esta batalha sem necessitar de renegar os princípios da Revolução e de todos aqueles que deram a vida pela sua soberania.