quinta-feira, 24 de setembro de 2015


FRONTALIDADE SIM, COBARDIA NÃO!

No rescaldo da visita Papal a Cuba pode concluir-se, como se esperava, que a mesma constituiu um enorme êxito, não só pela forte adesão popular, mas também pelos vários discursos do Sumo Pontífice que pela sua origem latino-americana conhece bem os ensinamentos de Bolívar e de Marti, sabendo tocar o coração dos cubanos e despertar as suas consciências para um mundo eivado de desigualdades, de violência e de injustiça.

As palavras do Papa Francisco dirigidas aos jovens, com total compreensão pelas suas ambições e irreverência, acabaram num apelo à sua união e sentido patriótico, constituindo o corolário da sua longa jornada por Havana. Poder-se-á até afirmar que depois de Che ter sido adoptado por Cuba, este é o segundo Argentino que também poderá usufruir desse estatuto não só pela sua simplicidade nos actos, mas também pela sua grandeza de pensamento.

Houve no entanto quem mais uma vez tivesse desejado misturar a política com a fé, aproveitando esta visita para ao serviço de mafiosos e de gente sem escrúpulos, fazer de uma festa religiosa palco para actividades provocatórias, aproveitando-se da imensa cobertura dos meios de comunicação internacionais.

Muito raramente escrevo sobre os pseudo-dissidentes porque já basta a publicidade que têm através de alguns meios que não perdem a mínima oportunidade para criticar Cuba. Mas por vezes há que abordar o assunto a fim de evitar que a mentira por tantas vezes repetida se transforme em verdade.

Em qualquer parte do mundo, incluindo Portugal, qualquer cidadão que realize acções subversivas contra a segurança interna é detido, julgado e condenado de acordo com o grau de crime praticado, agravando a sua situação se receber dinheiro de uma potência estrangeira para o fazer.

Em Cuba, por exemplo, muitos dos condenados por crimes comuns passam rapidamente a “presos políticos” e opositores ao regime, já que através da USAID (tentáculo encoberto da CIA) eles ou as suas famílias começam a receber alguns dólares como pagamento pela sua repentina e abnegada “dissidência” até ao momento em que, não sendo considerados importantes ou descobrindo que os seus auto-proclamados “líderes” se apropriam de parte ou de todo o dinheiro que lhes era dirigido, mudam outra vez e passam a arrependidos enganados.

Quem não conhece o povo cubano julga erradamente que tudo é aceite sem qualquer contestação, quando existem mais de 11 milhões de críticos sobre tudo e sobre todos, com ou sem razão. Mas uma coisa é criticar, outra é praticar crimes contra a segurança de todos os cidadãos e para isso também existem mais de 11 milhões para defenderem a independência e soberania nacional.

Experimentem assistir a uma Assembleia do Poder Popular e vão ver o que é discutir acaloradamente sobre todos os assuntos que afectem a comunidade ou sobre temas de nível provincial ou mesmo nacional. Fidel sempre deu esse exemplo e sempre gostou de frontalidade, não de cobardes.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)



quinta-feira, 17 de setembro de 2015


PAPA FRANCISCO EM CUBA

A propósito da próxima visita Papal e ao contrário do que muitas vezes é apregoado, em Cuba existe uma ampla liberdade religiosa que se expressa tanto em documentos de força legal, como na existência de um diversificado universo religioso em que os cubanos praticam e organizam as suas crenças através de variadas instituições e organizações religiosas, considerando o Vaticano que mais de 60% da população é católica.

A Constituição da República de Cuba, aprovada por plebiscito popular em 1976 com os votos favoráveis de 97,7% do eleitorado, estabelece em cinco dos seus artigos a separação entre a Igreja e o Estado, garantindo a igualdade de todas as manifestações religiosas perante a Lei e o direito de todos os cidadãos a professar o culto religioso da sua preferência, a mudar a sua crença ou até a não ter nenhuma.

O Estado não subvenciona nenhuma instituição religiosa nem interfere no seu funcionamento interno, sendo as mesmas as proprietárias e administradoras dos seus bens móveis e imóveis, incluindo os templos e outros edifícios.

A República de Cuba e o Estado do Vaticano mantêm relações diplomáticas ao nível de Embaixada e de Nunciatura Apostólica desde 1935 sem qualquer interrupção, possuindo a Igreja Católica em Cuba um Cardeal e quinze Bispos, distribuídos pelo dobro das dioceses que existiam antes do triunfo da Revolução, o que revela bem a total independência e liberdade com que se tem desenvolvido por todo o país com mais de 600 templos em pleno funcionamento, de onde sobressaem, entre outros, a Catedral de Havana, a Catedral de Santiago de Cuba e o Santuário Nacional de “Nuestra Señora de la Caridad del Cobre” onde se venera a imagem mariana encontrada em 1612 por três escravos que procuravam sal na Baía de Nipe, a maior de Cuba, situada na costa norte da região oriental da Ilha.

Tal como os seus antecessores, o Papa Francisco iniciará a sua visita pela cidade de Havana onde presidirá à missa a celebrar na Praça da Revolução que estará repleta de crentes e não crentes para o homenagear e ouvir as suas palavras. Ainda em Havana, o Papa terá um encontro privado com o clero, com o presidente Raul Castro e muito provavelmente com o líder histórico da Revolução Fidel Castro.

Seguirá depois para Holguin, cidade que pela primeira vez recebe um Papa e terminará esta peregrinação após assinalar o 100.º aniversário da declaração da Virgem da Caridade do Cobre como Padroeira de Cuba, despedindo-se na cidade de Santiago de Cuba de onde viajará para os EUA.

Pelo importante papel que o Papa Francisco teve no restabelecimento das relações entre Cuba e os EUA, espera-se que o Sumo Pontífice possa sensibilizar as autoridades norte-americanas para que ponham fim ao bloqueio económico, comercial e financeiro, o qual é rejeitado pela esmagadora maioria da comunidade internacional, pelo povo americano e até pelo próprio presidente Obama que o considera obsoleto e injusto por provocar danos de carácter humanitário.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)




quinta-feira, 3 de setembro de 2015



UM FUTURO MUITO MELHOR

Como tem sido amplamente noticiado, desde o passado dia 17 de Dezembro que as conversações entre os EUA e Cuba vêm sendo cada vez mais aprofundadas com vista à normalização das relações entre os dois países, levando até à abertura das respectivas representações diplomáticas ao nível de embaixada. Mas muito ainda há a percorrer em vários aspectos, pois se um dos principais desideratos era o da libertação incondicional dos Cinco Heróis injustamente presos, não nos podemos esquecer que o bloqueio económico, comercial e financeiro continua a vigorar, pese embora a vontade expressa pelo presidente Obama e por muitas outras importantes figuras do governo e da sociedade americana.

Poucos se lembrarão do início e do motivo que originaram estas hostilidades contra Cuba que remontam ao período imediato que se seguiu ao triunfo da Revolução com acções de sabotagem que tinham por objectivo derrotar aquilo que com tanto sacrifício tinha sido conquistado pelo povo cubano. Como parte da agressão económica e represália pela defesa intransigente de Cuba pela independência e soberania nacional, em 1960 o governo de Eisenhower aprovou a diminuição da quota açucareira de Cuba no mercado dos EUA, sabendo que a produção e exportação desse produto era fundamental para a subsistência da agricultura e da economia do país.

É assim que o governo cubano se vê obrigado em 8 de Agosto de 1960 a expropriar e nacionalizar (com a devida compensação) todas as empresas de propriedade americana que tinham o monopólio em vários sectores, como a electricidade, o gás, os telefones, o petróleo, etc., que estipulavam sem restrições os preços aos consumidores finais, explorando vergonhosamente os verdadeiros donos dos recursos naturais e dos produtos por si produzidos.

Passaram-se entretanto mais de 50 anos e para além dos sacrifícios e dos elevados prejuízos provocados pelo bloqueio a Cuba, o seu principal objectivo, que é político, nunca teve o sucesso pretendido, servindo apenas para tornar a vida mais difícil a todo um povo que quer continuar a ser livre e a decidir os seus destinos.

Mas também se põe a questão da devolução do território cubano de Guantanamo ocupado ilegalmente há mais de um século pelos EUA que aí mantêm um centro de torturas e de violações dos Direitos Humanos, sendo alvo de crítica por grande parte da comunidade internacional por violar todas as Convenções e Tratados sobre a instalação de bases militares estrangeiras sem o consentimento dos Estados soberanos.

Desde 1959 que o governo cubano vem reclamando essa devolução e agora chegou a hora de os EUA demonstrarem que estão fortemente empenhados numa paz duradoura e num bom relacionamento com o país vizinho, iniciando de imediato o seu encerramento e entregando o território aos seus verdadeiros donos.

Mesmo com todas as contrariedades, poucos países se podem orgulhar como Cuba, dos índices sociais alcançados nas áreas da saúde, da educação, da cultura, do desporto e em tantos outros sectores reconhecidos pelas mais insuspeitas organizações internacionais. E isto, sendo inquestionável, só pode augurar um futuro muito melhor.


(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)