quinta-feira, 23 de novembro de 2017



QUISERA EU SER DITADOR COMO TU

Por ocasião da minha recente passagem por Santiago de Cuba, não poderia deixar de ir ao Cemitério Santa Efigénia para prestar a minha homenagem a um Amigo que nos deixou fisicamente há quase um ano e que tanta falta nos faz.
Ainda existem alguns cretinos que não tendo a sua estatura moral e intelectual dizem que foi um ditador, desconhecendo completamente o seu percurso de vida e a sua obra.
Perante o seu túmulo e fechando os olhos, dei por mim a conversar com ele e a dizer-lhe:

Quisera eu ser ditador como tu, para rejeitar as benesses que uma família abastada me poderia proporcionar, optando por liderar uma Revolução libertadora de um povo oprimido e explorado;

Quisera eu ser ditador como tu, para à tua imagem, poder acabar com os agiotas nacionais e internacionais que exploram o meu país;

Quisera eu ser ditador como tu, para que no meu país houvesse uma “libreta” que pudesse minorar as carências alimentares de milhares de pessoas que sobrevivem com extrema dificuldade;

Quisera eu ser ditador como tu, para que todos tivessem direito à habitação sem ficarem devedores a uma instituição bancária durante toda a sua vida;

Quisera eu ser ditador como tu, para que no meu país existissem creches gratuitas para todas as crianças e isso não constituísse mais um encargo para as famílias.

Quisera eu ser ditador como tu, para que das 146 milhões de crianças desnutridas em todo o mundo, nenhuma fosse do meu país, tal como nenhuma é cubana;

Quisera eu ser ditador como tu, para poder proporcionar uma formação gratuita a todos aqueles que querem estudar, podendo atingir os mais altos graus académicos;

Quisera eu ser ditador como tu, para ter um sistema de saúde gratuito e que várias instituições internacionais reconhecessem a outros países, para além de Cuba, um dos maiores índices do desenvolvimento humano e um dos primeiros países a cumprir as metas para os objectivos do milénio, mesmo enfrentando todas as dificuldades que são conhecidas, podendo orgulhar-se de possuir das mais baixas taxas de mortalidade infantil e das mais altas no que se refere à esperança de vida a nível mundial.

Quisera eu ser ditador como tu, para possuir no meu país 1 médico por cada 148 habitantes, tal como Cuba, que é considerado pela Organização Mundial de Saúde a nação mais bem dotada neste sector;

Quisera eu ser ditador como tu, para poder ter mais de 20 faculdades que licenciam anualmente 11.000 novos médicos, entre eles mais de 5.000 cubanos e os restantes de outros 60 países a quem são concedidas bolsas de estudo para que se formem gratuitamente, em igualdade de circunstâncias com os estudantes cubanos, regressando depois às suas comunidades para que prestem assistência aos seus povos;

Quisera eu ser ditador como tu, para poder criar brigadas internacionalistas de apoio sanitário em vários países do mundo onde fazem falta profissionais de saúde pela escassez de recursos ou de primeira intervenção em caso de catástrofes;

Quisera eu ser ditador como tu, para que o meu país tivesse a possibilidade de contar com os mesmos especialistas cubanos para recuperarem ou melhorarem a visão de mais de 2 milhões de pessoas através da “Operação Milagro”;

Quisera eu ser ditador como tu, para continuar a ter condições de receber desde 1986 milhares de crianças vítimas de Chernobyl a fim de serem tratadas dos efeitos nocivos herdados dos seus progenitores que foram expostos directamente às radiações e que passaram para as novas gerações as alterações genéticas causadas por aquela catástrofe e que ainda hoje continua a provocar danos irreversíveis;

Quisera eu ser ditador como tu, para que nem mais um palmo do território do meu país fosse propriedade de pessoas ou empresas estrangeiras;

Quisera eu ser ditador como tu, para afirmar, tal como o fizeste em 1976 perante a Assembleia-geral das Nações Unidas, “Basta já da ilusão de que os problemas do mundo se podem resolver com armas nucleares. As bombas podem matar os esfomeados, os doentes, os ignorantes, mas não podem matar a fome, as doenças e a ignorância. Nem podem sequer matar a justa rebeldia dos povos”;

Quisera eu ser ditador como tu, para que os exemplos que Cuba dá ao mundo fossem seguidos por outros países que têm muito mais obrigações e capacidade económica para o fazer;

Quisera eu ser ditador como tu, para manter uma Revolução bem viva e ter a humildade de reconhecer os erros cometidos, tentando corrigi-los para que não voltem a suceder;

Quisera eu ser ditador como tu, para defender a utopia e acreditar fortemente na nobre ideia de que se poderá aspirar ao impossível e por isso conseguir realizar tantas e tantas coisas;

Quisera eu ser ditador como tu, afastando-me voluntariamente do poder quando entender já não possuir todas as faculdades físicas a que os cargos de responsabilidade me obrigariam;

Quisera eu ser ditador como tu, para não querer que o meu nome ou imagem sejam utilizados como culto de personalidade, considerando que apenas cumpri o meu dever perante a nação;

Quisera eu ser ditador como tu, para depois do meu desaparecimento físico estar bem vivo no coração do meu povo e continuar a ser uma referência para as actuais e futuras gerações.

Até sempre meu Amigo.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)


quarta-feira, 26 de julho de 2017



SEM MONCADA TERIA HAVIDO REVOLUÇÃO?

Chegados a 26 de Julho, data histórica do assalto ao Quartel Moncada efectuado há 64 anos por um pequeno grupo de jovens comandados por Fidel, colocaram-me a questão sobre se teria havido Revolução sem este acto heróico. Respondi que pode ser que sim, mas também pode ser que não, já que o movimento revolucionário necessitava de uma acção com bastante impacto junto da sociedade para que o entusiasmo da população não desmerecesse e acreditasse que era possível derrotar uma oligarquia corrupta ao serviço de interesses estrangeiros.

Moncada foi sem dúvida o despoletar da Revolução e por isso sempre serão lembrados como mártires e heróis nacionais todos aqueles que perderam a vida em combate directo ou assassinados pelos esbirros do regime, que sem compaixão pelos feridos, acabaram por os torturar e matar friamente. A derrota militar, com todas as suas consequências, acabou por constituir uma enorme vitória política que viria a dar corpo ao Movimento 26 de Julho como vanguarda da luta popular alargada a todo o país, que como se viu mais tarde, seria imparável e de extrema utilidade no apoio aos combatentes da Sierra Maestra e para as batalhas que se seguiram.

Uma outra questão é imaginar o que teria acontecido se Fidel e os companheiros tivessem saído vitoriosos de Moncada, ocupando os objectivos que estavam previamente planeados. O mais provável era que conseguiriam resistir durante alguns dias, mas inevitavelmente teriam de se retirar para a Sierra e esperar a ofensiva governamental, tal como viria a suceder 4 anos mais tarde, evitando-se assim a prisão e o exílio dos que sobreviveram. Mas a vitória política teria sido a mesma? Não, certamente.

Fidel sabia que em qualquer uma das situações o seu instinto o conduziria a uma solução e que as suas convicções seriam imbatíveis porque, como pensava, “todos os inimigos podem ser vencidos” ou, como diria José Marti, o seu mentor intelectual, “trincheiras de ideias valem mais que trincheiras de pedras”.

Acredito que sem Moncada a Revolução teria na mesma existido, com outros contornos é certo, com mais ou menos sacrifícios, mas a situação que se vivia nessa época era intolerável e o povo não poderia continuar a ser explorado e a viver oprimido por um governo sem escrúpulos.

Fidel, o grande timoneiro e Comandante eterno, soube interpretar os desejos do seu povo e com os atributos que lhe eram reconhecidos, entregou toda a sua vida a uma causa, repousando hoje muito perto do local onde tudo começou e onde se jogou o destino da Nação.

Ao comemorar-se o 26 de Julho como Dia da Rebeldia Nacional, festeja-se não só um acontecimento histórico, mas fundamentalmente a heroicidade de todo um povo que tem sabido resistir a todos os constrangimentos e sacrifícios que lhe são exigidos, em prol da sua soberania e independência.


(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)



segunda-feira, 19 de junho de 2017


NOVOS HOTÉIS EM CUBA

Localizado no coração de Havana, foi já Inaugurado oficialmente no dia 8 de Junho o mais luxuoso Hotel de Cuba, o Gran Hotel Manzana Kempinski, de cinco estrelas plus, correspondendo assim à cada vez maior procura de serviços de alta qualidade pelos clientes mais exigentes que visitam Cuba e onde foram aplicadas as mais modernas e sofisticadas tecnologias em harmonia com os valores patrimoniais edificados, preservando a identidade arquitectónica e a monumentalidade de um edifício centenário situado em pleno Parque Central, frente ao Gran Teatro de La Habana e ao Capitólio Nacional.

Já em construção e com inauguração prevista para 2018, renasce o Hotel Packard de cinco estrelas luxo, situado no Passeio do Prado, que contará com 320 habitações, salas de reuniões, vários bares e restaurantes, spa, piscina, ginásio e outros serviços, estando a sua administração contratada com a cadeia hoteleira Iberostar.

Também uma outra unidade de cinco estrelas luxo, o Hotel Sofitel La Habana, situado na esquina entre o Malecón e o ínicio do Passeio do Prado, contará com 218 habitações e será gerido pelo Grupo Accor, tendo a sua inauguração prevista para o próximo ano e reforçando assim a capacidade de oferta na capital do país, bem como novas unidades em Varadero e um novo campo de golfe internacional de 18 buracos.

Com um crescimento muito acima da média mundial, Portugal e Cuba, cada um em seu Continente, são dos destinos mais procurados pelo turismo internacional, assemelhando-se em muitos aspectos e por isso beneficiando de uma conjuntura favorável que se pretende possa perdurar por muitos e muitos anos. A estabilidade política, a segurança, a hospitalidade, a cultura, a gastronomia, as estâncias balneares, a preservação ecológica, o clima e a história, são factores fundamentais para o bem-estar dos visitantes que se sentem como em sua própria casa e com o desejo de voltar.

Na sua recente visita a Portugal, tive o privilégio e a honra de receber num jantar a senhora Vice-ministra do Turismo de Cuba, Mayra Álvarez Garcia, onde abordámos alguns aspectos desta área tão sensível para os dois países e da sua importância para a economia, fruto de um trabalho árduo e persistente, que se deseja manter, mas como sector dinâmico que é, necessita de uma atenção permanente e uma procura constante de soluções a cada momento, estando o Ministério de Turismo de Cuba atento às novas tendências internacionais, elevando o padrão de qualidade que pode ser comparado com qualquer outro destino mais sofisticado.

Independentemente do que possa dizer ou fazer o ainda presidente dos EUA Donald Trump, descendente de emigrantes alemães por parte do pai e de escoceses por parte da mãe, que há dias em Miami – e onde mais poderia ser? – lançou um chorrilho de asneiras para justificar um possível retrocesso nas relações entre os dois países, principalmente no aspecto económico e no turismo, não percebendo que Cuba resistiu por mais de 60 anos aos mais ferozes e cobardes ataques dos EUA e que continuará resistindo contra tudo e contra todos que possam pôr em causa a sua soberania nacional, desenvolvendo as políticas sociais e económicas aprovadas pela generalidade do seu povo através de uma democracia participativa que nem todos compreendem por desconhecimento ou ignorância.

Para além do turismo internacional, cujos principais países emissores são o Canadá, a Alemanha, a Itália e a Espanha, espera-se o crescimento de outros, como por exemplo de Portugal e da China, assim como o do turismo nacional que tem tido um grande incremento.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)