sábado, 31 de dezembro de 2016


SEJAMOS UTÓPICOS COMO FIDEL

O ano que agora está a terminar fica marcado pela contradição; por um lado a satisfação por Fidel ter cumprido 90 anos e por outro, ter-nos deixado fisicamente alguns meses depois. Todos sabíamos que esse dia iria chegar mais cedo ou mais tarde, mas havia sempre uma ténue esperança para que nunca ocorresse, como se alguém pudesse resistir fisicamente à lei da vida. Hoje, passados já alguns dias, estamos mais recompostos do choque inicial e mais conscientes da importância que ele teve não só para o povo cubano, mas também para outros povos do mundo.

Mas imaginemos o que poderia ter sido a sua vida se não tivesse entrado nas lutas estudantis e mais tarde liderado uma Revolução.

Filho de pai abastado, quando Fidel terminou o curso de direito na Universidade de Havana já o seu pai tinha 75 anos e com os problemas de saúde que tinha, não se afigurava que resistisse muitos mais anos, acabando por falecer em 1956. Pelas circunstâncias, Fidel poderia ter rumado a Biran para ajudar o pai e mais tarde tomar conta das propriedades e dos negócios da família que eram de bastante monta para a época, podendo assim aspirar a ter uma vida bem desafogada e promissora.

Pelo seu primeiro casamento, poderia também através do seu sogro, Rafael Díaz-Balart, que na época era um influente político de confiança e ao serviço de Fulgêncio Batista, ter almejado um qualquer cargo importante no aparelho do Estado, passando a usufruir das benesses inerentes a quem era protegido e amigo do ditador.

Mas com o curso de Direito, também poderia ter montado escritório na capital e trabalhar como advogado para a elite habanera ou para uma das muitas multinacionais americanas com interesses em Cuba, tendo assim todas as possibilidades de viajar pelo mundo em representação das mesmas.

Como filho de pai espanhol, poderia ter optado pela dupla nacionalidade e instalar-se em Madrid ou Barcelona ou até em Lançara, na Galiza, terra natal da sua família paterna, tornando-se um emigrante privilegiado em terras ibéricas.

Poderia, como muitos outros o fizeram, ido viver e trabalhar para Miami onde já existia uma importante colónia de cubanos ricos e detentores de muitos interesses quer em Cuba, quer nos EUA ou noutras paragens onde pudessem explorar uma mão-de-obra barata.

Enfim, para um jovem advogado num país em que muito poucos tinham acesso ao ensino superior, todas as portas se poderiam ter aberto para que passasse a ter um futuro profissional e até político bem destacado.

Mas o seu sentido de justiça levaram-no para outro rumo de vida, lutando contra tudo e contra todos para libertar de vez um povo oprimido e sem direitos, fazendo dessa escolha um sacerdócio até ao último dos seus dias, considerando ser sua obrigação moral e ética seguir os passos de José Marti e de todos os heróis que se bateram pela independência e soberania de Cuba.

Com a sua inteligência e cultura geral, Fidel abarcava um profundo conhecimento de todas as áreas de intervenção governamental, idealizando e pondo em prática alguns modelos inovadores para o desenvolvimento dos mais variados sectores, desde a alfabetização à investigação científica. E como disse há dias o seu grande amigo e admirador Eusébio Leal, “Fidel foi um grande defensor da utopia e acreditava fortemente na nobre ideia de que se poderia aspirar ao impossível; e por isso conseguiu realizar tantas e tantas coisas”.

Basta conhecer e lembrar o que era Cuba antes da Revolução para se perceber a importância de Fidel. Comparando com os outros países da América-latina, Cuba possui um nível de desenvolvimento humano invejável, ombreando e até nalguns casos superando os índices de outros países ricos e considerados do primeiros mundo.

Com a sua ausência física todos ficámos mais pobres, mas sejamos merecedores da sua utopia seguindo os seus exemplos que perdurarão na nossa memória e nos nossos corações.

Obrigado Comandante.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)




terça-feira, 29 de novembro de 2016


SOMOS FIDELISTAS

Há muito que a notícia era esperada porque a lei da vida assim o impõe, mas nunca se está suficientemente preparado para a receber, seja de um familiar próximo, seja de uma figura como Fidel Castro.


Por ironia do destino, no mesmo dia 25 de Novembro mas de há 60 anos, Fidel iniciava a viagem a bordo do iate Granma desde o rio Tuxpan no México, com destino a Cuba para liderar a luta revolucionária de libertação do seu povo que era explorado e oprimido por um regime subjugado ao império norte-americano.

Escrever hoje sobre Fidel não é fácil, quando os sentimentos e a emoção nos traem e não conseguimos encontrar as palavras certas para o muito que nos apetece dizer deste excepcional homem que dedicou toda a sua vida à causa pública, transformando o seu país num baluarte e exemplo para todos os povos oprimidos e o grande impulsionador para a união dos povos da América-latina.

Em 1976 e perante a Assembleia-geral da ONU, Fidel afirmou: “Basta já da ilusão de que os problemas do mundo se podem resolver com armas nucleares. As bombas podem matar os esfomeados, os doentes, os ignorantes, mas não podem matar a fome, as doenças e a ignorância. Não podem tão pouco matar a justa rebeldia dos povos”.

Aqueles que hoje se regozijam com o seu desaparecimento físico são os frustrados que não o conseguiram vencer em vida. Contra tudo e contra todos, Fidel foi sempre um vencedor, resistindo a todos os ataques e sobrevivendo a centenas de tentativas de assassinato, sendo apenas traído pela falência de alguns órgãos do seu corpo, mas mantendo-se lúcido até ao fim como ele sempre desejou.

Trincheiras de ideias valem mais que trincheiras de pedra, escreveu José Marti, e Fidel personifica bem essa imagem ao deixar-nos um vastíssimo rol de pensamentos e reflexões sobre os mais variados temas, para além de ter posto em prática aquilo em que acreditava ser possível para construir um mundo melhor.

Em 1996 dizia: "Os homens passam, os povos permanecem; os homens passam, as ideias permanecem. Os homens passam, mas o sentido de justiça, de irmandade e de igualdade entre os seres humanos, o direito a defender os seus valores, as suas esperanças, no nosso povo nunca passarão".

Fidel, idolatrado pelo seu povo, deixa um importantíssimo legado às novas gerações para que continuem o aperfeiçoamento da Revolução que tantos sacrifícios tem custado para manter um país unido e soberano, resistindo a todas as contrariedades e ataques traiçoeiros ao longo da sua história.

Fidel não morreu! Apenas o seu corpo já transformado em cinzas repousará junto ao Apóstolo José Marti, as duas mais importantes figuras de Cuba, permanecendo para a eternidade os seus ideais.


Até sempre Comandante!




sexta-feira, 28 de outubro de 2016


COINCIDÊNCIAS, OU TALVEZ NÃO!

Existem momentos em que por feliz coincidência temporal nos levam a acreditar no destino, pois conjugados entre si, dão-nos a recompensa pelo esforço desenvolvido ao longo de anos para que eles aconteçam, não por mero acaso, mas sim como fruto de um trabalho persistente nas mais variadas frentes, havendo agora a necessidade de os não deixar passar em claro, não só pela sua importância, como também porque outros órgãos de comunicação social omitem completamente ou não dão o devido relevo.

Na passada semana, em que se comemorou o Dia da Cultura Cubana, foi pela primeira vez aprovada por unanimidade, repito, por unanimidade na Assembleia da República Portuguesa, um voto sobre a necessidade de pôr fim ao bloqueio dos EUA a Cuba, ao mesmo tempo em que era recebida no Parlamento uma delegação de cubanos oriundos de vários países, que vieram participar no XI Encontro de Cubanos Residentes na Europa, que se realizou no último fim-de-semana em Lisboa, numa jornada que ficou marcada pela unidade e patriotismo daqueles que longe fisicamente da pátria, continuam a defender e a lutar pela sua Revolução.

Também pelo 25.º ano consecutivo, a Assembleia-geral das Nações Unidas reunida na passada quarta-feira, votou de novo uma resolução que condena o bloqueio económico, comercial e financeiro dos EUA a Cuba, que já dura há mais de meio século e que prejudica seriamente o desenvolvimento de uma nação soberana e independente. Dos 193 países que constituem a Assembleia, 191 votaram a favor da condenação e apenas EUA e Israel se abstiveram, quando antes votavam sempre contra. Não deixa de ser curioso que os EUA justifiquem o seu voto referindo a violação dos Direitos Humanos por parte de Cuba, quando sabem que isso não passa de uma mentira que a sua propaganda inventou, sendo eles próprios os maiores violadores desses Direitos no plano interno e externo, bem acompanhados por Israel que considera o povo da Palestina sem quaisquer Direitos.

Dir-se-ia que uma resolução votada quase por unanimidades no órgão máximo das Nações de todo o mundo deveria ser respeitada, até porque está mais que provado que os objectivos desse tenebroso bloqueio não foram nem nunca serão alcançados. Só falta mesmo acabar com ele de uma vez por todas e desejar que esta tenha sido a última vez que tal votação se efectuou.

Para culminar e encher de orgulho quem desde há muitos anos vem defendendo o bom relacionamento entre Portugal e Cuba, tivemos a visita oficial do nosso Presidente da República, que para além das razões de Estado, também não é alheia a simpatia e os argumentos da Embaixadora Cubana Johana Tablada de La Torre, por quem o Professor Marcelo Rebelo de Sousa nutre muita consideração, admirando o profissionalismo da diplomata na defesa dos interesses do seu país. A ela muito se deve esta visita, restando-nos agradecer-lhe todo o empenho e dedicação que teve para a concretizar.

De acordo com as palavras proferidas em várias ocasiões pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, esta visita foi extremamente positiva, não só pelos encontros que teve ao mais alto nível, destacando a recepção do Presidente Raul Castro e a troca de impressões com o líder da Revolução Fidel, como também pela delegação de empresários que o acompanharam e que estão interessados em investir no país, participando a partir do dia 2 de Novembro na próxima Feira Internacional de Havana integrados no Pavilhão de Portugal.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016


XI Encontro de Cubanos Residentes na Europa

Organizado pela Coordenadora das Associações de Cubanos Residentes em Portugal, realiza-se em Lisboa, de 21 a 23 de Setembro o XI Encontro de Cubanos Residentes na Europa, do qual consta um variado programa, contando-se com a participação de cerca de 200 delegados, na sua maioria oriundos de outros países.

No primeiro dia os delegados serão recebidos na Assembleia da República, (Parlamento Português) seguindo-se uma visita à zona histórica onde se encontram os principias monumentos de Lisboa e uma recepção na Embaixada de Cuba.

No segundo dia, sábado, após a creditação dos delegados na “Voz do Operário”, Instituição com mais de um século de existência e que gentilmente cedeu as suas instalações, terão início os trabalhos com a saudação de boas-vindas por parte de Eduardo Johnston Bennett (Presidente da Coordenadora) e a intervenção da Embaixadora Johana Tablada de la Torre.

Seguem-se vários painéis, como: “Meios de Comunicação alternativos e contra-informação, redes sociais ao serviço dos residentes no exterior em defesa da sua pátria – debate sobre o papel que podem desempenhar os cubanos na divulgação da verdade”, “Todo Guantánamo é nosso, com projecção do vídeo de Hernando Calvo Ospina”, “Bloqueio, suas consequências para o povo cubano e ingerência”, “Cumprimento do X Encontro,Associações de Cubanos na Europa, seu trabalho e seus projectos – Intercâmbio de experiências”, finalizando-se os trabalhos deste dia com o tema “Assuntos Migratórios, problemática dos Cubanos na Europa”.

Pela noite segue-se um jantar de convívio e diversas actividades de âmbito cultural, onde actuarão a flautista Maya Campos, a Banda Havanaway e o Grupo Los Cubanitos, para além de outras surpresas que se estenderão até de madrugada.

No domingo os trabalhos iniciam-se pelas 9.30 com o tema “Avanços e desafios do processo de integração Latino-americana”, seguindo-se a intervenção de Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e da Dra. Amor de los Ângeles Vega Castaño, chefe da Brigada Médica Cubana em Portugal, que dissertarão sobre “Doentes estrangeiros que foram atendidos em Cuba”. Depois, com o tema “Solidariedade com Cuba”, será apresentado o documentário “Fidel 90 Anos”, da Associação de Cubanos em Catalunha José Marti.

Após debate e aprovação do documento final, será proposta e seleccionada a sede do próximo Encontro a realizar em 2017.

O Encontro de Lisboa, que tem vindo a ser preparado desde há quase um ano, constituirá um marco importante para todos os Cubanos residentes em Portugal, pois será mais um acto de afirmação da unidade e do sentido patriótico, tantas vezes manifestado em acções concretas de quem está longe fisicamente, mas que tem sempre presente os valores defendidos por Marti e pela Revolução.

(Celino Cunha Vieira- Cubainformación)



sexta-feira, 23 de setembro de 2016


UM LOUCO CHAMADO DONALD

De todas as palermices já proferidas por Donald Trump, faltava ao candidato falar de Cuba e da reversibilidade dos acordos já estabelecidos entre os dois países, caso ele vença as eleições e o governo cubano persista na “falta de liberdade religiosa” e “não liberte os presos políticos”.

Claro está que estas palavras eram dirigidas a um público constituído por eleitores de Miami, sabendo ele que aí radicam alguns grupelhos inimigos de Cuba que têm fomentado e praticado actos de terrorismo para desestabilizar a ordem pública, com as consequências que são sobejamente conhecidas.

Mas que conhecimentos tem Trump sobre o que se passa em Cuba? Que sabe ele de liberdade religiosa ou dos criminosos que depois de julgados e condenados se intitulam presos políticos?

Por onde andava Trump quando em Fevereiro do corrente ano assistimos ao encontro histórico entre o Papa Francisco e o Patriarca Kiril da Igreja Ortodoxa Russa que se realizou em Havana, cuja declaração conjunta foi lida e assinada na presença do Presidente Raul Castro, anfitrião dos distintos representantes das duas Igrejas que estavam divididas desde o Cisma no ano de 1054 e que agora, passado quase um milénio, se voltaram a reunir fraternalmente num país pacífico que sabe receber de braços abertos todos aqueles que amam a paz?

Que sabe Trump das visitas Papais a Cuba ou das várias confissões religiosas que têm os seus fieis no país e que vão desde os Católicos, Protestantes, Baptistas, Jeovás, Adventistas, Presbiterianos, Anglicanos, Metodistas, Luteranos, Ortodoxos, Muçulmanos, Judeus, Budistas, etc., até aos Santeristas, prática Afro-Cubana cuja origem remonta ao século XV com o comércio de escravos e que hoje está fortemente implantada no país?

Como pode este indivíduo defender criminosos de delito comum, muitos deles pagos para praticarem actos de provocação e outros de sabotagem, pondo em risco a segurança do país e até a vida de inocentes?

Como pode este paranóico de origem alemã mas nascido num país que apenas tem pouco mais de 200 anos de história falar sobre a liberdade de outros, quando não olha para o que se passa na sua casa e ataca ferozmente a emigração mexicana querendo até construir um muro?

Sabe-se de Trump que aquilo que ele diz hoje pode contradizer amanhã, mas contudo é necessário ter algum cuidado – se vier a ser eleito – não porque manterá o embargo a Cuba e porá fim às conversações bilaterais, mas sim porque terá um enorme poder bélico nas suas mãos.

Cuba não necessita de um Trump como inimigo, mas também é de ficar de sobreaviso se for Hilaary Clinton a ganhar, já que ela parece não ter autoridade suficiente para controlar todos os poderosos do regime que apenas se guiam pelos seus desmesurados interesses pessoais.

Esta indefinição irá persistir até ao dia 8 de Novembro e afigura-se que qualquer uma das soluções poderá constituir um obstáculo ao bom relacionamento entre os dois países.

De qualquer modo, Cuba que já resistiu durante décadas aos ataques sistemáticos dos EUA, saberá mais uma vez ultrapassar com inteligência qualquer contrariedade.


(Celino Cunha Vieira-Cubainformación)



quarta-feira, 3 de agosto de 2016


PETRÓLEO DE QUALIDADE EM CUBA

Com a recente divulgação do resultado das prospecções que têm sido realizadas, abrem-se novas perspectivas para a extracção em terra de petróleo de alta qualidade em Cuba, estimando-se um potencial inicial de 8,2 mil milhões de barris num campo compreendido entre Cárdenas na província de Matanzas e Motembo na província de Villa Clara, com uma extensão de 2.000 quilómetros quadrados.

Prevê-se que a exploração tenha início no próximo ano através de um consórcio entre empresas Australiana e Cubana, estando já identificadas mais duas zonas que se julga terem o mesmo potencial ou superior, mas que ainda estão em fase de estudo.

O campo agora identificado tinha já sido objecto de exploração a partir dos finais do século XIX até ao início dos anos sessenta do século XX, quando foi selado, e desde há alguns anos tem sido possível extrair junto à costa, entre Havana e Matanzas cerca de 80 milhões de barris anuais de um petróleo pesado, levando à necessidade de o misturar com outro de qualidade para poder ser refinado.

Com a crise que se vive na Venezuela, principal fornecedor de petróleo a Cuba, tem vindo a diminuir essa colaboração, cifrando-se hoje em cerca de 20 milhões, quando antes era superior a 32 milhões de barris anuais, obrigando a recorrer ao mercado internacional a preços inflacionados devido ao criminoso bloqueio económico, comercial e financeiro dos EUA, que continua a provocar elevados prejuízos a Cuba.

Embora exista uma forte aposta nas energias renováveis por parte das autoridades cubanas, o certo é que o país ainda depende substancialmente dos produtos petrolíferos que têm um elevado peso na economia do país, afectando a manutenção e o desenvolvimento da área social, ao ser obrigado a desviar recursos financeiros para a importação desta matéria-prima essencial.

Se atendermos a que o Estado Cubano continua a garantir gratuitamente aos seus cidadãos a maior parte das necessidades básicas e que a cobrança de impostos ainda não é significativa, mesmo existindo já um sector privado que gera uma economia paralela, percebe-se porque o crescimento do país desceu para metade do previsível, tornando-se urgente a reforma do sistema tributário que não pode continuar a ser o mesmo.

De qualquer modo, confirmando-se a notícia de que Cuba passará a ter o petróleo de que necessita extraído do seu próprio território e em quantidades tais que lhe permita exportar excedentes, pode constituir um virar de página em toda a sua economia e um novo amanhã para todos os cubanos.

Mas, cuidado! Onde há petróleo logo aparecem os abutres para o controlar, seja de que maneira for, e o mundo está carregadinho desses exemplos. Mas estou certo de que Cuba saberá contornar esses obstáculos pela experiência adquirida em mais de meio século de constantes agressões à sua independência e soberania.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)



terça-feira, 26 de julho de 2016


26 DE JULHO - DIA NACIONAL DE CUBA

Quando no dia 26 de Julho de 1953 um grupo de 135 jovens comandados por Fidel Castro participou no assalto ao Quartel Moncada em Santiago de Cuba, na tentativa de a partir daí armar a população para derrubar o governo fantoche de Fulgêncio Batista, estavam muito longe de imaginar o que viria a passar-se nos seis anos seguintes. Desta acção resultou a morte da maioria dos revolucionários e a prisão dos restantes, tendo Fidel sido condenado a 15 anos de prisão, em cujo julgamento proferiria a célebre frase de que “a história me absolverá”.

Pese embora a derrota militar sofrida, este dia acabou por marcar definitivamente o rumo do futuro movimento revolucionário que adoptou a sigla M-26, desenvolvendo-se por todo o país acções de sensibilização e recrutamento de apoiantes que na clandestinidade se preparavam para o momento em que os principais líderes seriam libertados, já que a pressão exercida quer por instituições, quer pelo povo anónimo a isso conduziria inevitavelmente.

Por isso, foi com enorme expectativa e interesse que tive a oportunidade de visitar o “presídio modelo” na Ilha da Juventude onde Fidel, Raul e os restantes companheiros estiveram encarcerados, podendo, pelo que vi, imaginar as precárias condições e o total isolamento a que foram submetidos até à sua libertação em 15 de Maio de 1955, beneficiando de uma amnistia presidencial. Nesse mesmo dia e instado pelos jornalistas que o aguardavam, Fidel afirmou: “continuaremos lutando até obter a independência de Cuba”.

Exilando-se no México dois meses após a sua libertação, Fidel e Raul iniciam de imediato os preparativos para voltar a Cuba com uma expedição de revolucionários, desembarcando do pequeno iate “granma” no dia 2 de Dezembro de 1956 na praia “Las Coloradas” e daí seguindo para a “Sierra Maestra” onde permaneceram dois anos até ao triunfo da Revolução em 1 de Janeiro de 1959.

Se até aí o “Movimento 26 de Julho” tinha desempenhado um extraordinário trabalho na organização política de inspiração Martiana, a partir do início da luta armada passou também à acção militar e ao apoio logístico dos revolucionários que combatiam o exército governamental.

Assim e em homenagem a todos os “Moncadistas” é celebrado em 26 de Julho o Dia Nacional de Cuba com manifestações patrióticas por todo o país, nunca esquecendo aqueles que nesse dia deram a sua vida para que hoje Cuba possa ser livre e independente de qualquer subjugação imperialista.

Como escreveu José Marti, “Pátria é comunhão de interesses, unidade de tradições, unidade de fins, fusão docíssima e consoladora de amores e esperança”.

(Celino Cunha Vieira-Cubainformación)
 

quinta-feira, 30 de junho de 2016


NOVAS OPORTUNIDADES EM CUBA

Depois da recente visita do Presidente Obama a Cuba, há muita gente que pensa que o criminoso bloqueio económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos EUA há mais de 50 anos já terminou, mas isso não corresponde à verdade e pelo “andar da carruagem” ele – Obama – acabará o seu mandato presidencial sem que isso aconteça.

Hoje, passado algum tempo sobre a mediática visita, constata-se que de pouco mais valeu para além de uma bem montada operação de charme, exigindo-se muito mais do que meras intenções que tardam em se concretizar, como por exemplo a do encerramento da base norte-americana de Guantánamo e a entrega desse território cubano aos seus legítimos proprietários, para além de muitas outras de índole comercial e financeiro.

Dir-se-á que alguns passos importantes já foram dados, mas são insuficientes e com pouco ou nenhum impacto no dia-a-dia da população que anseia por novas oportunidades para um rápido desenvolvimento da sociedade cubana, já que as restrições à importação de determinados bens essenciais continuam a prejudicar quem mais deles necessita, nomeadamente alguns medicamentos exclusivos que podem salvar vidas ou minorar o sofrimento de doentes com patologias complicadas.

O interesse crescente de investimento estrangeiro e o estabelecimento de acordos bilaterais com inúmeros países de todo o mundo tem vindo a intensificar-se com a visita de altos dignitários a Cuba, onde Portugal não poderia deixar de estar presente, dando o actual governo continuidade ao trabalho efectuado anteriormente, tendo o Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva efectuado esta semana uma visita oficial, participando em várias reuniões e assinando diversos protocolos de benefício para os dois países, considerando que Portugal tem interesse estratégico na relação com Cuba. O Ministro Santos Silva recebeu também e agradeceu o encorajamento e apoio de Cuba à candidatura de António Guterres a Secretário-geral das Nações Unidas.

Desde há décadas que alguns empresários portugueses mantêm um comércio regular com a Ilha, mas nos últimos tempos assiste-se a um novo despertar na procura de oportunidades quer para o mercado interno, quer como plataforma para a exportação direccionada para o vasto leque dos países da América Latina e do Caribe, podendo as empresas portuguesas beneficiar dos fundos comunitários que se encontram disponíveis para a sua internacionalização.

Recorde-se que Portugal mantém relações diplomáticas com Cuba desde os anos iniciais do século XIX e que o nosso Eça de Queirós representou o país como Cônsul em Havana, onde desenvolveu actividades na defesa dos direitos humanos e das minorias subjugadas pelo poder ainda reinante da coroa espanhola, numa época em que já se lutava pela independência e pela abolição da escravatura em Cuba.


(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)



quinta-feira, 9 de junho de 2016


HAVANA, CIDADE MARAVILHA

A partir de agora, Havana já é oficialmente considerada “Cidade Maravilha do Mundo Moderno”, tendo sido inaugurado no passado dia 7 um elemento escultórico com placa comemorativa à entrada da baía, frente ao “Castillo de San Salvador de la Punta” assinalando-se assim o reconhecimento de milhões de pessoas de todo o mundo que votaram durante o ano de 2014 num concurso organizado pela Fundação Suíça “New7Wonders” que seleccionou inicialmente 1.200 cidades de aproximadamente 220 países até se chegar à fase final com apenas 14 candidatas.

Até ao dia 11 decorrerão diversas actividades alusivas à distinção, onde terão lugar conferências, um desfile de “comparsas” no passeio do Prado, uma mostra pictórica de estudantes da Academia de San Alejandro, um festival desportivo e apresentações ao ar livre de concertos musicais, teatro, ballet, coros, Buena Vista Social Club e muitos outros.

Quem já visitou a cidade sabe que é inteiramente justa esta designação, pois atendendo às vicissitudes porque o país tem passado, com um bloqueio económico, comercial e financeiro que obriga a desviar recursos para bens essenciais, tem mesmo assim conseguido uma excelente recuperação do seu centro histórico levada a cabo pelo Gabinete do Historiador, dirigido pelo Dr. Eusébio Leal, constituindo sem dúvida, um bom exemplo do que se pode fazer com parcos meios, mas com muita imaginação, muito trabalho e muito amor.

O tremendo esforço que tem sido feito para preservar e manter a traça de edificações em ruínas transformando-as em modernas instalações destinadas gratuitamente a importantes sectores sociais como infantários, centros de dia ou lares para idosos com unidades de cuidados paliativos, para além de novos museus, galerias de arte, restaurantes temáticos ou hotéis de charme, constitui uma notável obra digna de ser apreciada e reconhecida.

Havana, classificada como Património da Humanidade pela UNESCO desde 1982, é uma das cidades mais bonitas do mundo, com um passado que a honra, mas sobretudo com um presente em que harmoniosamente se misturam culturas e estilos arquitectónicos que chamam a atenção pela sua diversidade e contraste entre o antigo e o moderno, entre o clássico e o contemporâneo.

Modestamente mas com orgulho, Portugal está bem representado, pois muitos dos azulejos que indicam o nome das ruas do Centro Histórico foram executados no nosso país pela Fábrica de Olaria da Viúva Lamego, pelo painel representando Eça de Queiroz numa das paredes da “Casa de las Infusiones” em “la calle Mercaderos” e pela estátua de Luís Vaz de Camões situada frente ao Hotel Ambos Mundos e que só foi possível concretizar graças ao extraordinário empenhamento da Embaixadora Johana Tablada que contou com o apoio do Instituto Camões e que foi inaugurada em 2014 pelo Secretário de Estado Luís Campos Ferreira em representação do governo português.

Motivos não faltam para visitar Havana e muitas outras cidades e locais de Cuba.

(Celino Cunha Vieira-Cubainformación)



quinta-feira, 26 de maio de 2016


EL CABALLERO DE PARIS

Invariavelmente quem percorre o Centro Histórico de Havana encontra na Praça de S. Francisco, junto ao Convento, uma escultura de bronze em tamanho real da autoria do escultor José Villa Soberón que representa “El Caballero de Paris” despertando a atenção de quem passa por ser uma figura enigmática e desconhecida da grande maioria dos visitantes.

Por vezes cria-se uma enorme fila para se conseguir posar junto a ele, adoptando-se posições pouco comuns, já que segundo reza a lenda, para dar sorte, deve segurar-se uma das suas mãos, apertar a sua ponteaguda barba e pisar-lhe um dos pés. Nunca ninguém comprovou que uma foto tirada assim com o “Caballero de Paris” trouxesse mais sorte, mas não custa nada acreditar que ele, sepultado mesmo ali ao lado, pode contibuir para isso.

Mas quem era esta personagem? Nascido na Galiza em 1899, José Maria López Lledín chegou a Havana em 1913 com a idade de 13 anos para se juntar a um tio que antes havia emigrado para Cuba. Teve vários ofícios e a partir da década de 50 começa a vaguear pela capital sendo descrito como explorador das ruas onde atraia quem passava para escutar as suas reflexões sobre a existência humana, a religião, a política e os acontecimentos do cotidiano.

Não sendo considerado um vagabundo, exibia um cabelo comprido e desgrenhado, uma farta barba e unhas retorcidas por as não cortar, trajando sempre de preto e dormindo onde calhava, nunca se separando de uma pasta com papéis e de um saco com os seus pertences. Nada pedia pelas suas histórias mas aceitava as ofertas que lhe faziam, retribuindo com um cartão feito à mão por ele como reconhecimento escrito da bondade de quem o ajudava.

Diz-se que por um desgosto de amor nunca casou e que a designação de “Caballero de Paris” provém de uma novela francesa com um personagem parecido, por deambular pelo Paseo del Prado que tem uma calçada semelhante à do Louvre ou por ter trabalhado no restaurante Paris. Existem muitas versões e toda a sua vida está repleta de peripécias, algumas até contraditórias, pois as narrações orais levam muitas vezes ao exagero e à efabulação.

Esta figura mitificada de orador e escritor de rua converteu-se na palavra andante e no contador da história que passa de boca em boca, representando uma parte da cultura urbana que vale a pena evocar e preservar, como símbolo de uma época em que a comunicação era bem diferente daquela que é hoje.

José Maria López morreu em 1985 com a idade de 86 anos e foi sepultado no Convento de S. Francisco de Assis, como homenagem à lenda viva de que muitos ainda se lembram e que faz parte da história da cidade que em cada recanto tem muito por contar.

El Caballero de Paris espera-os em Havana para que possam retratar-se com ele. Se não der sorte, pelo menos ficam com uma boa recordação.

(Celino Cunha Vieira-Cubainformación)



quinta-feira, 19 de maio de 2016


CRIANÇAS DE CHERNOBYL

Passados 30 anos sobre o fatídico dia 26 de Abril de 1986 em que ocorreu na cidade de Chernobyl na Ucrânia o maior acidente nuclear de que há memória, com um impacto superior ao de Fukushima no Japão em 2011, Cuba continua a receber anualmente cerca de 800 crianças ucranianas para serem tratadas dos efeitos nocivos herdados dos seus progenitores que foram expostos directamente às radiações e que passaram para as novas gerações as alterações genéticas causadas por aquela catástrofe que ainda hoje continua a provocar danos irreversíveis.

Para além de doenças menos graves, a maioria das crianças apresentam um quadro clínico com patologias associadas ao cancro da tiróide, leucemia, atrofia muscular, transtornos neurológicos e alopécia (redução total ou parcial de pelos ou cabelos em determinadas zonas da pele).

Cumprindo um programa multidisciplinar, ao longo dos anos já receberam tratamentos em Cuba mais de 26.000 crianças que necessitam de sol e banhos de mar como parte da terapia na aplicação de alguns produtos desenvolvidos pela ciência cubana, como a “melagenina” que ajuda a regenerar a pigmentação da pele e como a “pilotrofina” que facilita o crescimento do cabelo.

O tempo de permanência em Cuba na colónia balnear de Tarará, situada a cerca de 25 km a Leste de Havana, tem variado de acordo com a gravidade das lesões e muitos deles acabam por ficar muitos meses para além dos 45 dias recomendados, até poderem regressar em definitivo ao seu país e às suas famílias. Nos casos mais graves são geralmente acompanhados por um familiar e com a vinda de professores ucranianos têm podido continuar os seus estudos enquanto se sujeitam aos tratamentos.

Em 1992 tive o privilégio de poder visitar estas instalações de Tarará, interagir com algumas crianças e verificar a felicidade estampada naqueles rostos (alguns desfigurados pelas queimaduras, já que os primeiros tinham estado expostos directamente às radiações) mas demonstrando uma enorme vontade de viver, retribuindo com sorrisos o esforço e a dedicação que todos os técnicos de saúde cubanos estavam a fazer para que pudessem ter um futuro e uma vida bem melhor e mais digna.

Imagino que hoje são já os filhos daqueles de 1992 que recebem tratamentos em Cuba, continuando a usufruir das mesmas condições que os seus pais encontraram do outro lado do mundo a mais de 9.000 km de distância das suas casas e que aqui recordo como me sensibilizaram e me mostraram como é possível um mundo melhor.

Quando tantas vezes se fala em direitos humanos, lembro-me sempre destas inocentes crianças que têm sido acolhidas com carinho e com toda a solidariedade de um povo que tem dado provas cabais de estar sempre pronto a ajudar os mais carenciados, contribuindo para que tenham o inalienável direito à existência.

Que bom seria que os exemplos que Cuba dá ao mundo fossem seguidos por outros países que têm muito mais obrigações e capacidade económica para o fazer.

 
(Celino Cunha Vieira- Cubainformación)




quinta-feira, 21 de abril de 2016


VINTE CINCO DE ABRIL

Enquanto em Portugal se comemora a “Revolução dos Cravos” do 25 de Abril de 1974, Cuba recorda que desde este dia mas no ano de 1961, portanto há 55 anos, sofre as consequências de um bloqueio económico, comercial e financeiro imposto unilateralmente pelos EUA e que tarda em ser completamente abolido, mesmo depois de a administração norte-americana ter reconhecido a sua ineficácia para derrubar a Revolução Cubana.

O bloqueio surge na sequência do ataque mercenário em Playa Girón, na Baía dos Porcos, numa operação organizada, dirigida e apoiada pela CIA, que em 72 horas foi derrotada pelas Forças Armadas Revolucionárias comandadas por Fidel, que com os poucos meios bélicos de que dispunha, teve no entanto o apoio precioso de uma enorme multidão do povo anónimo que se mobilizou junto dos Comités de Defesa da Revolução, da Federação Cubana de Mulheres, de Organizações de Trabalhadores, de Organizações de Juventude, etc. para ajudar a combater a invasão iniciada no dia 19 de Abril e que esta semana também se comemorou os 55 anos desse acontecimento.

A batalha de Girón durou apenas 3 dias e foi a primeira grande derrota do todo-poderoso vizinho americano que não esperava uma réplica tão eficaz e organizada, saldando-se a irresponsabilidade dos EUA no sacrifício de todos os seus efectivos que morreram, ficaram feridos ou foram feitos prisioneiros, para além da perca de muito material de guerra ligeiro e pesado, alguns aviões e barcos afundados.

Mas também esta semana passam 40 anos sobre o cobarde atentado à bomba na Embaixada de Cuba em Lisboa, onde no dia 22 de Abril de 1976 morreram dois funcionários diplomáticos cubanos, Adriana Corcho Calleja e Efrén Monteagudo Rodriguez, de 36 e 33 anos respectivamente, vítimas de um dos 165 criminosos actos terroristas que entre 1974 e 1976 foram executados contra representações e diplomatas cubanos em 24 países diferentes, organizados e perpetrados pelas organizações contra-revolucionárias com sede em Miami e apoiadas pelos governantes norte-americanos, que no caso de Portugal eram representados pelo Embaixador Frank Carlucci que mais tarde viria a ser Director da CIA e Secretário da Defesa dos EUA. Adriana e Efrén foram vítimas de uma guerra suja e impiedosa mas não morreram em vão e sempre serão recordados em Portugal e em Cuba, porque ao serviço do seu país caíram em combate na defesa dos seus ideais e da sua Revolução.

Revolução que foi debatida durante o VII Congresso do Partido Comunista de Cuba realizado de 16 a 19 de Abril em Havana, que contou com a presença de mais de 1.000 delegados e 280 convidados durante os trabalhos e na sessão de encerramento com a do líder histórico Fidel Castro, de onde saíram importantes conclusões para o futuro do País, destacando, por me parecer de grande significado, a proposta do Presidente Raul Castro para que se estabeleça a idade máxima de 60 anos para integrar o Comité Central, assim como limitar os mandatos a apenas dois períodos consecutivos em cargos de responsabilidade política, contribuindo assim para o rejuvenescimento dos quadros dirigentes, numa demonstração clara da confiança que a Revolução deposita nas novas gerações que estão mais do que preparadas para a preservar e aperfeiçoar, de acordo com os princípios ideológicos e a Constituição da República.

Isto só é possível porque os cargos políticos em Cuba são efémeros e entendidos por todos como uma missão e não como um modo de vida onde se defendem interesses pessoais ou de grupos económicos. Será que nas outras democracias também é assim?


(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)