quinta-feira, 23 de abril de 2015


SERÁ QUE FOI REVOLUÇÃO?

Passados 41 anos sobre o 25 de Abril em Portugal, não quero deixar passar em branco esta data, mas também não posso chamar-lhe revolução, como muitos apregoam, porque, como caracterizou Fidel, “Revolução é o sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é igualdade e liberdade plenas; é ser tratado e tratar os demais como seres humanos; é emancipar-nos por nós mesmos e com os nossos próprios esforços; é desafiar poderosas forças dominantes dentro e fora do âmbito social e nacional; é defender os valores em que se acredita ao preço de qualquer sacrifício; é modéstia, desinteresse, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é não mentir jamais nem violar princípios éticos; é convicção profunda de que não existe força no mundo capaz de derrubar a força da verdade e das ideias”.

Neste conjunto de princípios, onde se encaixa o que se passou em Portugal nestas últimas quatro décadas? Quando uma democracia se apoia em partidos políticos divididos entre esquerdas e direitas e em que na maioria dos casos apenas procuram o poder a qualquer preço sem os mínimos princípios ideológicos nem respeito pelos cidadãos, não há revolução que resista. Poucos têm as mãos limpas e desses, alguns são completamente ostracizados pelas cliques partidárias para que não tenham a veleidade de poderem apontar aos “poderosos” os desvios e as falcatruas em que se envolvem.

Em Cuba, pelo contrário, a Revolução está bem viva e as gerações sucedem-se na governação em todos os níveis, garantindo a continuidade das conquistas alcançadas e sabendo adaptar-se aos novos desafios globais. Desenganem-se todos aqueles que por falta de convicções profundas temem os perigos da aproximação entre os governos de Cuba e dos Estados Unidos, porque os cubanos sabem o que querem e conhecem bem as diferenças que existem entre as duas sociedades. Já após o fim do bloco socialista os receios foram os mesmos e Cuba conseguiu resistir heroicamente. Porquê? Porque a Revolução Cubana é única e assenta numa base popular.

Quem está pouco atento ou mal informado nem se apercebeu da importância que teve o passado dia 17 de Dezembro com as declarações dos dois presidentes e o regresso à Pátria de António, Gerardo e Ramón, com a proposta de Obama para pôr fim ao bloqueio comercial, económico e financeiro, com a declaração conjunta da intenção de abertura de representação diplomática ao nível de embaixada em cada país, com a participação de Cuba na Cimeira das Américas e com a retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo. Tudo isto num curto espaço de tempo em que nem os mais optimistas poderiam imaginar, sem qualquer cedência de Cuba porque a razão estava do seu lado, constitui um passo importante para um futuro relacionamento e cooperação que só beneficiará os dois povos.

Cuba nada mudou na sua política externa e sempre esteve na disposição de manter relações com todos os países do mundo, desde que as mesmas fossem tratadas em pé de igualdade e com respeito pela sua independência e soberania, não admitindo qualquer tipo de ingerência. E assim continuará sendo, podem crer.

(Celino Cunha Vieira - Cubainformación)



quinta-feira, 9 de abril de 2015


QUEM DEVE O QUÊ A QUEM?

No âmbito das conversações entre as delegações de Cuba e dos EUA, surgem agora uns quantos cidadãos americanos a pressionarem o seu governo, para que este introduza nas negociações o tema da recuperação ou indemnização sobre bens expropriados após a Revolução.

Esta atitude não constitui uma novidade, pois a máfia instalada em Miami tem esse objectivo desde há mais de 50 anos, nunca se tendo conformado com as nacionalizações ou com a ocupação de propriedades que tinham sido roubadas ou adquiridas por baixo valor, em troca de favores dos governantes corruptos da época.

A produção agrícola, maioritariamente dedicada ao cultivo da cana-de-açúcar, era totalmente dominada por empresas directa ou indirectamente ligadas aos EUA, sendo toda a produção canalizada e comercializada por este país, enquanto os trabalhadores eram explorados de uma forma encapotada de escravidão, porque a pouco ou nada tinham direito. Aliás, o desemprego rondava os 75%, pois só 25% da população activa tinha alguma ocupação, auferindo salários miseráveis.

Como exemplo, uma das empresas nacionalizadas foi a Companhia Cubana de Electricidade - que de cubana não tinha nada – e que só fazia investimentos nas grandes cidades onde pudesse recuperar rapidamente o dinheiro aplicado, deixando as pequenas povoações sem esse serviço essencial. A deficiente electrificação do país pouco passava dos 50%, atingindo hoje quase os 100% e mesmo os lugares mais recônditos se não são servidos pela rede nacional, existem energias alternativas, como painéis solares ou pequenas hidroeléctricas.

Os mesmos que agora reclamam indemnizações são os mesmos (ou os seus descendentes) que antes de 1959 mantinham um país em que só 15% da população tinha água corrente, que 65% dos médicos e das camas hospitalares estavam concentrados na capital e por isso a esperança de vida não ia além dos 62 anos, onde existia desnutrição e cerca de 27% morriam prematuramente por tuberculose e febre tifóide, ou que mais de 44% nunca tinham frequentado uma escola.

Que moral tem aquela gente para exigir seja o que for, quando os recursos naturais e a riqueza gerada no país era distribuída por uma elite promíscua e sem qualquer tipo de humanidade? Com que direito se arrogam como credores, quando sempre roubaram aquilo que não lhes pertencia?

Isto, já para não referir a ocupação abusiva desde há mais de 100 anos de um território que faz parte integrante da Nação Cubana, o saque dos fundos públicos, os prejuízos incalculáveis derivados do bloqueio económico, financeiro e comercial, para além das vidas humanas que não têm preço e que ao longo dos anos pereceram pelas acções e atentados terroristas perpetrados contra Cuba e o seu povo.

Entre o deve e o haver, Cuba tem muito mais razões para poder exigir o ressarcimento do que lhe foi retirado, pois a única coisa que Cuba deve a essa gente é terem sido os verdadeiros motivadores para que se fizesse uma Revolução e isso sim, o povo agradece.

(Celino Cunha Vieira-Cubainformación)